segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

29°55’12” S, 51°10’48” W – A ilha de Lost do Futebol Gaúcho

Aclimatado ao verão e dando graças pela época dos vestidos de alcinhas, dedico algum tempo a compartilhar com vocês a impressão que eu tenho a respeito do futebol em Canoas. Aliás, futebol aqui na cidade é algo meio distante como, sei lá, Ushuaia. Depois de Ijuí e Novo Hamburgo me atrevo a apresentar Canoas, essa espécie de Chelsea com praia.

A ilha de Lost do futebol gaúcho dá a impressão de ter tudo o que precisa para ser mais respeitosa ou mesmo incentivadora do futebol: 330 mil habitantes, poucos acidentes de relevo e pelo menos uns cinco ou seis times que, se apoiados, poderiam fazer um jeito nessa peleia que é o gauchão, nem que fosse na série B. Só numa levada podemos citar: S. C. Oriente, E.C. Sul América, C.R Brasil, E.C. Rio Pardo, Collaziol Scottá, E.C. Paineira - que é um clone do Palmeiras, em logotipia, cores e a manha de não ganhar nada.



Futebol? Não temos. Mas temos um avião na praça.

Não suspeito, porém, que algo possa estar errado com a nossa água ou com o ar que respiramos. Só que, de qualquer maneira, é triste saber que a tua cidade não tem um mínimo movimento mais incisivo em direção ao futebol. E isso ao longo de 26 anos, o pouco que até agora vivi. O que não deixa de ser preocupante, porque pode ser ainda mais antigo o problema. Para ter uma idéia, em 2000, nosso único representante no Gauchão da série B era o catatônico Canoas F. C., que, assim como surgiu, desfaleceu em um MOONWALK ad eternum pelo limbo do futebol mais islâmico do Brasil.

Alguém há de perguntar ou não pelo que eu teria como Plano B: a Ulbra (chupa, RBS; o nome do time é S.C. U L B R A, querendo vocês ou não). Justifico dizendo que até a Ulbra ter uma torcida com cara de torcida – e não me refiro à multiplicidade de idéias ou correntes que desejam sobressair-se em relação a outras. Falo daquele troço apaixonado e doentio, uma identificação que nós temos aí por Grêmio, Inter, Xavante, Noia... Se não for isso, pode ser pela relação meio distante até fisicamente, entre os canoenses com seus times, como se o futebol fosse um troço intangível.

Pago um SACOLÉ de limão para quem conseguir chegar sem medo à sede do Canoas. E falo no sentido literal mesmo. Relativamente próxima do centro da cidade, a sede do Canoas fica em uma área que equivale a uma Vila Maria Degolada para os naturais da capital. Evitem!
Há duas décadas saímos de Ipanema, em Porto Alegre, para morar em Canoas. Estive no Mato Grande, bairro do estádio, duas vezes nesses 20 anos: uma quando atacava de interessado na Associação de Proteção aos Animais, muito mais pela loirinha voluntária que quebrava a vala com seus shortinhos, e em uma segunda oportunidade fui justamente para acompanhar um treino do Canoas.

Temos taças, só falta o que comemorar


Resultado da segunda? Fui assaltado (perdi, perdi!!) em plena luz do dia em um dos becos próximos do estádio enquanto ia acompanhar um treino e jurei não haver terceira expedição ao bairro, não sem antes entrar em contato com a Ouvidoria da Prefeitura e amaldiçoar até a quinta geração da família Lagranha, em três vias, o que não resolveu o meu problema, mas garantiu uma resposta divertida por parte do Executivo municipal, algo que dizia, resumida e educadamente que o azar era todo meu por ter sido lesado.

Curioso é que aqui também tem uma fonte de água mineral (perto da engarrafadora da temível e lendária caninha 7 Campos) e os dois estádios ficam mal localizados, diria até quase fora do município.

Se fizermos uma análise rápida e desprovida de conhecimentos geográficos e, por que não dizer cartográficos, vamos constatar que o complexo esportivo da universidade está mais para Esteio do que para Canoas. Afinal, a EXPOINTERLAND fica ali, atrás da Petrobrás, coisa de 2 quilômetros, mais ou menos. Pode ser que eu esteja analisando só com a predisposição para avacalhar tudo, mas me parece que nosso futebol está tão marginalizado quanto à posição de seus respectivos estádios.

Acredito que o acesso, ou melhor, a falta dele, afasta as pessoas que fazem um baita número em matéria de paixão pelo esporte: o proletariado (valeu Marx). Sinceramente, não é fácil chegar de ônibus dos dois endereços maiores do ludopédio canoense. Enquanto em Porto Alegre até ônibus errado passa pelo Olímpico ou pelo Beira-Rio, deste lado de cá do Rio Gravataí é preciso muito mais do que R$ 2,10 para chegar aos estádios.

Para o Mato Grande, por exemplo, a partida de ônibus se dá de hora em hora nos horários de maior movimento, podendo chegar a duas horas de intervalo, nos finais de semana e feriados. Para a Ulbra, pouco mais fácil, até por conta de ser uma universidade, mas dependendo do bairro em que se está, são necessários dois ônibus, umas duas horas de espera e mais de R$ 4 de contribuição para uma única empresa. Sim, temos esse lance do monopólio há muito tempo mesmo e não parece que vai mudar tão cedo.

Esse, meus amigos, é o cenário do futebol dito profissional na cidade que tem um avião em uma praça e uma linha de metrô que divide a cidade. Algo como Canoas Ocidental e Canoas Oriental. E, pô, o mais engraçado é que dá pra perceber como as coisas são diferentes de um lado e do outro da linha do metrô, mas isso é papo pra outra hora. Agora em 2009 só temos a Ulbra, para quem não torcerei nem querendo. A tentação é grande, consigo ver o estádio da janela do meu quarto até. Mas prefiro jogar Winning Eleven do que torcer para os luteranos que formam um clube nada simpático e recebem pela sua empáfia a escassez de torcida.

Agora em 2009, assumiu a boléia um prefeito companheiro para comandar a boléia da cidade. Está na hora de pegar uns manos de aba reta que ficam pagando de funkeiros no shopping e botar pra jogar bola no Capão do Corvo e nos outros dois parques esportivos, a saber, Centro Olímpico Municipal e Parque Eduardo Gomes, como antigamente rolava. Se não dá pra fazer frente com um time confirmado, pelo menos tira a gurizada das ruas.

Canoas: boa para a REFAP. O futebol que espere



A dupla Gre-Nal parece-nos suficiente para suprir a dose de paixão e loucura que precisamos ter pelo futebol, pelo menos para grande parte da nossa gente. A proximidade com Porto Alegre provoca isso. Afinal, Canoas por muitos anos foi considerada cidade dormitório e ainda a vejo assim, já que trabalhando e estudando em Porto Alegre, quando estou em Canoas ou estou dormindo ou estou tentando decifrar os segredos da condição humana. Daqui de Canoas, torço pela boa vontade e seriedade com o esporte em geral. E também pelo povo, que embalada pelo fenômeno de marketing Barack Obama acreditou que YES, WE CAN.

Foto 01 – Crédito: Skyscrapercity.com
Foto 02 – Crédito: João Paulo Flores / Corsan
Foto 03 – Crédito: Divulgação / Promonen engenharia

Nenhum comentário: